top of page

SAIBA MAIS:

 

- Webrádio Múltipla [rádio]

Web TV Múltipla [vídeo]

Revista Múltipla [impresso] (no prelo)

- Múltipla online 

 

 

 

Espaço Comum Luiz Estrela

 

Por Bráulio Ivo, Juçara Moreira e Rafael Francisco

 

26 de junho de 2013. Último dia da copa das confederações e a cidade de Belo Horizonte abrigava mais um episódio das manifestações políticas que invadiram o Brasil naquele período.

 

As ruas da capital mineira se assemelhavam há um campo de guerra devido o embate entre a Polícia Militar e dezenas de manifestantes. Foi neste cenário de caos que uma estrela se apagou. Um morador de rua foi encontrado morto.

 

Luiz Otávio da Silva era seu nome, mais conhecido como Luiz Estrela. Sua morte segue até os dias de hoje envolvida em polêmica e sem uma explicação. Alguns dizem que ele foi brutalmente espancado até a morte pela polícia, outros relatam que Luiz morreu em decorrência de uma convulsão logo após ter apanhado. 

 

Poeta, multi-artista, homossexual, alcoólatra, dependente de remédios, ele vivia sobre o estigma de ser um morador de rua. Luiz tinha uma estrela tatuada na testa. De acordo com o ator e estudante de Letras Jonathas Vidigal, a tatuagem foi fruto de uma brincadeira de mau gosto na qual um tatuador ofereceu dois litros de cachaça caso Luiz o deixasse fazer a tatuagem. “Viciado em bebidas, ele acabou deixando, mas no fim das contas acabou fazendo disso a sua marca” conclui Vidigal.

 

Quatro meses depois da morte do emblemático Estrela, um grupo de ativistas e artistas da cidade ocupou um casarão histórico que estava abandonado há quase 20 anos no número 348 da Rua Manaus, no tradicional bairro de Santa Efigênia. O imóvel, tombado pelo patrimônio histórico passou a abrigar desde então o Espaço Comum Luiz Estrela.

 

A intenção não era apenas de salvar o local, mas transformá-lo em um espaço cultural, um ambiente vivo para o desenvolvimento das artes e aberto a todos. Além de resgatar a memória do local, a ideia era fazer com que o artista Luiz se tornasse um símbolo de luta e militância pela diversidade. Mas não foi tão fácil assim, e não tem sido.

 

O prédio, já bastante deteriorado, corria risco iminente de desabamento e pertencia à Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), mas estava cedido à Fundação Educacional Lucas Machado (Feluma). Diante de várias tentativas de retirada dos ocupantes pela Polícia Militar, o coletivo foi orientado a invocar o artigo 216 da Constituição Federal, que determina que também cabe à sociedade civil salvaguardar o patrimônio cultural.

 

Seria necessário conseguir um termo de cessão de uso. Com o empenho de todos, em dezembro do mesmo ano eles conseguiram a concessão do imóvel e com isso a responsabilidade de arrecadar quarenta e cinco mil reais para as obras emergenciais de escoramento. Com o apoio da comunidade e dos artistas, campanhas nas redes sociais e uma intensa vontade de ver aquilo funcionado, o valor foi levantado.

 

As obras para as medidas emergenciais no local já estão sendo feitas por engenheiros e arquitetos que desenvolveram voluntariamente um projeto para o casarão continuar de pé. Até a conclusão das obras, as atividades do centro cultural foram transferidas para um pátio localizado bem ao lado do prédio, onde os artistas podem dar continuidade ao movimento.

 

Arquitetos, engenheiros, advogados, antropólogos, psiquiatras, professores, designer gráfico, atores... A maioria dos colaboradores e integrantes do coletivo exercem outras atividades, mas fazem questão de dedicar parte de seu tempo como voluntários, se revezando na intenção de manter o ambiente sempre produtivo. Para o mosaicista Osiel de 41 anos o respeito à individualidade é a característica mais marcante do local. “O Espaço Comum Luiz Estrela é uma casa que abrange a todos. Aqui não tem cor, aqui não tem raça, aqui não tem sexo, não tem eu sou melhor e você é pior. Aqui todo mundo aceita o outro”.

 

No endereço ocorrem diversas atividades culturais como performances teatrais, eventos musicais, oficinas de pintura, sarau literário. Acontecem também debates, conversas e workshops sobre temas de interesse da comunidade. Há ainda a realização de uma feirinha artesanal que movimenta o espaço quinzenalmente.

 

Na opinião da atriz Letícia Marçal, o Espaço Comum Luiz Estrela representa a possibilidade da existência de locais com uma cultura independente e que não estejam atrelados aos incentivos do Governo. Ainda de acordo com ela a cada dia e com a chegada de novos integrantes o projeto inicial ganha olhares e perspectivas diferentes. Letícia Marçal argumenta que o espaço se “define em sua indefinição”.

 

A causa da morte de Luiz Estrela, para muitos, segue sem explicação. Entretanto o que poderia ser apenas mais um número nas estatísticas se transformou em um legado, o Espaço Comum Luiz Estrela.

 

Para ser um apoiador do Espaço Comum Luiz Estrela acesse a plataforma de doação

 

 

Centro Universitário de Belo Horizonte

multiplaunibh@gmail.com

© 2023 por YOLO.

Orgulhosamente criado com Wix.com

Seus detalhes foram enviados com sucesso!

  • Twitter Clean
  • facebook
bottom of page