top of page

Vozes da rua

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Por Anderson Alves, Luciano Vieira e Matheus de Oliveira

 

Com um microfone na mão, o mestre de cerimônias – assim é chamado o apresentador do evento no mundo do hip hop – grita: “O que está acontecendo aqui?”. A multidão responde: “Duelo de MCs!”. Este é um ritual comum nos Duelo de Mcs, realizados sob o Viaduto Santa Tereza ou na Praça 7, em Belo Horizonte.

 

A terra de Jota Quest e Skank vem se destacando também no cenário do rap nacional. Isso porque desde 2007 um grupo formado por cinco pessoas decidiu ocupar as ruas de Belo Horizonte para espalhar as culturas do hip hop e do skate.

 

O Duelo de MCs é realizado pelo coletivo “Família de Rua” e começou na Praça da Estação, em agosto de 2007, mas com o passar das semanas, o que era “brincadeira entre amigos” começou a crescer e atrair público.

 

Neste momento, os “organizadores” da batalha optaram por migrar para debaixo do Viaduto Santa Tereza, já que o local comportava mais pessoas e era coberto – em caso de chuva, por exemplo. Após a mudança para o local, o Duelo de MCs se tornou um dos principais movimentos de ruas do país.

 

O público da batalha é diverso. Brancos, negros, “playboys”, moradores da periferia, executivos etc. Tem todos o estilos! Mas essa pluralidade faz parte da proposta do evento. “O duelo virou uma referência de ocupação de espaço público da cidade para reunir toda a juventude de BH, desde o pobre da periferia ao rico da zona sul.”, enfatiza Pedro Valentim,  um dos cinco integrantes do coletivo.

 

A batalha de MCs é um enfrentamento entre dois rappers, ou seja, os MCs improvisam em rimas para superar o adversário. Os artistas usam variados recursos para vencer o oponente. Vale até tirar sarro e, às vezes, xingamentos.

 

Mas, segundo Pedro, esses são comportamentos normais entre eles, já que os rappers convivem bem entre si. “Não existe 'treta' entre os Mcs. Normalmente quase todos são amigos. Além disso, a gente se preocupa muito com a postura deles, já que os MCs são exemplos para o público, principalmente para os moradores da periferia, que muitas vezes procura o rap como forma de válvula de escape”.

 

Formatos

 

Há três formatos de Duelo de MCs: o tradicional, o temático e o bate e volta. O tradicional, que é o clássico da batalha, é um enfrentamento entre rappers, uma forma de ataque e resposta em dois rounds de 45 segundos. Já no temático, é selecionado um assunto e os MCs devem desenvolver uma rima sobre o tema. O coletivo “Família de Rua” também criou o “bate e volta”, cujo formato tem o mesmo esquema de ataque e resposta, porém, a contagem do tempo é feita no compasso da música. “Ele é mais dinâmico e muito mais difícil, já que o rapper deve rimar de acordo com as batidas da música”, destaca Valentim.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Duelo de MCs Nacional

 

Após sucesso do Duelo de MCs em BH, o coletivo “Família de Rua” decidiu criar um duelo nacional. Com o mesmo formato da batalha, o evento é realizado uma vez por ano e conta com participações de MCs de todo o país. Além disso, o evento nacional reúne DJs e grafiteiros de todo o país, com objetivo de propagar a cultura das ruas.

 

Após dois anos com patrocínio, o Duelo Nacional de MCs foi ameaçado pela falta de apoio financeiro e dependeu da colaboração do público e de eventos realizados pelo coletivo. Além disso, o encontro contou com o apoio de rappers nacionalmente renomeados, como Emicida, Slim Rimografia, Criolo e Rashid.

 

O coletivo conseguiu arrecadar pouco mais de R$ 30 mil para realizar a batalha nacional. O evento foi realizado em um domingo, dia 23 de novembro, sob o Viaduto Santa Tereza e contou com aproximadamente 2,5 mil pessoas.

 

O estudante de Arquitetura, Henrique Átila, de 24 anos, compareceu em mais um ano do Duelo Nacional. Ele ressalta a importância do evento para a capital mineira: “O duelo faz parte da cultura urbana de Belo Horizonte. Aqui, em BH, não há incentivo à cultura por parte do poder público e dos empresários.”

Pedro Valentim, membro do Família de Rua, destaca a importância da população para o evento. “A terceira edição do Duelo Nacional de MCs foi uma vitória de todos nós, ou seja, do coletivo, dos MCs, do público, de todo mundo envolvido.”, enfatiza.

 

Na disputa pelo título de campeão nacional do freestyle, subiu ao palco representantes de oito estados: Salsi (PE), Leoni (ES) Daniel ADR (PA), Capanga (MG), Koell (SP – disputando pela segunda vez), Lodk (RJ), Nauí (DF), Larício (BA).

 

O baiano Larício Gonzaga, de 18 anos, foi o vencedor da grande final. O rapper da Bahia bateu Capanga, mineiro de Uberaba, com direito a voto da plateia enlouquecida. “A final foi muito louca, com ataques e respostas sensacionais. A criatividade estava a todo vapor, principalmente com o Larício. Os organizadores do Duelo deste ano estão de parabéns por todo o envolvimento para conseguir realizar o evento. Foi sensacional!”, destaca a estudante de Publicidade, Laiza Lage, de 21 anos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Desafios

 

Atualmente, o Viaduto Santa Tereza – berço da cultura do hip hop e do skate em Belo Horizonte – passa por reformas. Os idealizadores do Duelo de MCs se viram sem espaço para a realização do evento. O elevado foi tomado por obras da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e o coletivo “Família de Rua” foi informado que teria que desembolsar cerca de R$ 700, 00 em taxas para realizar os duelos.

 

Com o objetivo de pressionar e agilizar a disponibilidade de um novo espaço para os duelos, manifestantes e integrantes dos movimentos protestaram no dia 21 de março deste ano em frente à sede da prefeitura, na Avenida Afonso Pena.

 

Segundo Pedro Valentim, a relação com o poder público é muito estreita. “Os limites dessa relação é um negócio muito complicado. A gente já teve que parar o duelo algumas vezes para poder refletir com as pessoas sobre a nossa postura naquele espaço. E, ao mesmo tempo a gente já teve que fazer uma articulação política gigante na cidade, mobilizar uma série de grupos e pessoas para cobrar da prefeitura um local para realizar as batalhas. A gente entendia que cobrar uma taxa de licenciamento de um projeto sem fins lucrativo é uma idiotice, sacou?”.

 

Após algumas intervenções do coletivo e dos adeptos do movimento, o Duelo de MCs passou a ter um novo local. O “Família de Rua” conseguiu um alvará para que a batalha seja realizada na Praça 7, a cada 15 dias, aos sábados, a partir das 14 horas. 

Centro Universitário de Belo Horizonte

multiplaunibh@gmail.com

© 2023 por YOLO.

Orgulhosamente criado com Wix.com

Seus detalhes foram enviados com sucesso!

  • Twitter Clean
  • facebook
bottom of page